Cardiopatias e exercício físico de alta intensidade
Por: Prof. Marcelo Pereira
Não restam dúvidas entre os profissionais que atuam na área da saúde, principalmente médicos e educadores físicos, que a prática regular e orientada de exercícios físicos tornou-se uma efetiva opção de intervenção capaz de retardar ou, até mesmo, reverter diversas alterações decorrentes da evolução do quadro clínico das mais diversas formas de cardiopatias. Ao mesmo tempo, sabe-se que o sedentarismo acelera sua evolução agravando os sintomas. Em pacientes com alguma forma de cardiopatias, os mecanismos responsáveis pela melhora da capacidade funcional induzida pelo exercício físico são complexos; envolvem modificações centrais e periféricas com efeitos hemodinâmicos e neuro-hormonais. Atualmente, graças aos avanços científicos e tecnológicos, as pesquisas envolvendo exercícios físicos tornaram-se altamente específicas, buscando respostas para seus reais benefícios em nível celular e molecular.
Mas, qual será o melhor programa de exercícios físicos para um paciente cardiopata? Durante décadas ?pregou-se a palavra? (e, claro, ainda se prega) de que o exercício aeróbio, contínuo e de intensidade baixa à moderada é aquele que poderá proporcionar uma melhor qualidade de vida ao paciente praticante. Porém, recentemente, esse paradigma começou a ser quebrado. Um grupo de pesquisadores europeus iniciou estudos elegantes e altamente controlados com exercícios físicos intermitentes (ou intervalados) de intensidade elevada (95% da FC máx) aplicados aos cardiopatas. Apesar do susto inicial e da inevitável ?torcida de nariz?, os resultados são extremamente animadores.
O primeiro estudo sobre esse tema (publicado em 2007) mostrou que os pacientes submetidos ao exercício intenso intermitente apresentaram efeitos benéficos mais expressivos na função cardíaca, avaliados por exame ecocardiográfico, quando comparados ao grupo que realizou exercício moderado contínuo e ao grupo que permaneceu sob a terapia medicamentosa usual.
Esse e os demais resultados do estudo mostram a superioridade dos efeitos do exercício intenso intermitente sobre o moderado contínuo em uma população especial, com uma grave síndrome cardiovascular. Isso contribuirá, em um futuro não muito distante, para a criação de novas diretrizes para o tratamento das doenças cardiovasculares utilizando-se do exercício físico como adjuvante terapêutico em programas de reabilitação.
Porém, cautela! Poucos estudos mostram essa quebra de paradigma. E os que o fazem são muito bem conduzidos e controlados por grandes institutos de pesquisa e renomados hospitais em países europeus desenvolvidos. Até o momento, poucos pesquisadores brasileiros se dispuseram a estudar o assunto; entretanto, questões éticas ainda entravam a aplicação das pesquisas.
Se você, caro leitor, assim como eu ficou animado ao saber de tais inovações, vá com calma! Continue fazendo seu trabalho, sempre lendo e buscando atualizações. O tempo nos dirá o melhor caminho a seguir.