PARTE III: Relações de trabalho. Por Professor Bruno Amaro
Para um melhor entendimento sobre as mudanças que poderão ocorrer no contrato psicológico de trabalho, a partir da premissa de que o desenvolvimento da carreira torna-se uma ação individual, deve-se refletir sobre as conjunturas atuais do mercado de trabalho. Jornada parcial, trabalho temporário, semanas de trabalho comprimidas e teleworking são algumas formas de trabalho encontradas nos dias de hoje. No contrato psicológico de trabalho os ganhos são fantasiosos, pois o indivíduo reduz a visibilidade dele próprio perante a organização e chefias, o que dificulta o encarreiramento. Quando trabalham em casa, os colaboradores se sentem isolados e esquecidos, visto que a presença reduzida afeta diretamente na absorção da cultura corporativa e ainda ocorrem ressentimentos entre funcionários que trabalham na empresa e os que trabalham em casa. O contrato psicológico está voltado para o desafio profissional e ambiente de aprendizado do indivíduo, ao invés de ser voltado para a instituição.
No passado, as pessoas dedicavam suas carreiras a uma única empresa, devido a ameaça de desemprego, assim como é hoje no funcionalismo público. Existiam progressões lineares de carreiras pré-estabelecidas pelas organizações, as estruturas com pouca flexibilidade e o sucesso do profissional era medido pelo número de degraus que conseguem subir no organograma. Atualmente ocorre o enfraquecimento do compromisso com a organização, atrofiando assim, as relações de trabalho e contatos que passam a ser virtuais.
No indivíduo visto socialmente, percebe-se um enfraquecimento dos relacionamentos e contatos pessoais, tornando-os à margem dos contribuintes diários nos ambientes das organizações, o que pode gerar problemas na estrutura psíquica do indivíduo e problemas de socialização em algum momento. Para entender melhor essa dinâmica, vale repensar no programa educacional que desde criança existe: a socialização nas escolas, trabalhos em grupos e posteriormente nas universidades, quando há possibilidades da continuidade nos estudos, e em determinado momento uma ruptura acontece e o individuo passa a se relacionar com uma máquina, seja telefone ou computador, fugindo assim da doutrina. Desta forma, nota-se a desconfortável premissa de desenvolvimento de uma carreira pautada em ações individuais, isoladas do contexto de redes sociais, no sentido de grupos de indivíduos que interagem com outros grupos de indivíduos presencialmente no ambiente de trabalho. Denota uma complexa circunstância para adequação da estrutura psíquica do que fora enquadrado o indivíduo desde novo.
Percebe-se então, um indivíduo mais independente; que produz resultados e gerencia a própria carreira, sozinho; que reluta em aceitar os padrões antigos de relacionamento.