Treinamento de força e hipertensão arterial - por Alexandre Correia Rocha
Uma alternativa para controle e prevenção dessa patologia, a hipertensão, é a prática regular do exercício físico. Por motivo de segurança, facilidade no controle da intensidade e desconhecimento das alterações da pressão arterial (PA) frente a uma sessão de exercício resistido (ER) e/ou programa de treinamento resistido (TR), os exercícios aeróbios foram os mais estudados e recomendados. Até o início dos anos 1990, o TR, também chamado de treinamento de força, com pesos, contrarresistência ou musculação, não eram contemplados em diretrizes internacionais (UMPIERRE e STEIN, 2007). Graças aos esforços de diversos autores e ao grande número de pesquisas recentemente publicadas, o TR está sendo recomendado para todas as populações como mais uma estratégia para profilaxia e tratamento de doenças crônico degenerativas, inclusive para aqueles que sofrem de HAS (PESCATELLO, 2004; AHA, 2000).
Sabe-se que o TR também proporciona alterações subagudas e crônicas que são benéficas para o controle da PA e estas alterações são evidenciadas em sujeitos hipertensos e normotensos. Bermudes e cols. (2003) verificaram o efeito hipotensivo após uma sessão ER em forma de circuito em sujeitos entre 40 e 50 anos, normotensos e sedentários e não evidenciando alterações significativas da PA em relação ao repouso após o exercício e durante o período de sono quando avaliada pelo MAPA. No estudo realizado por Polito e cols. (2003), foi observado efeito hipotensor após uma sessão ER, no entanto, a magnitude não diferiu quando a intensidade do treino foi alterada. Agora, com relação às respostas subagudas do ER em hipertensos, alguns estudos também destacam a hipotensão pós-exercício. Melo e cols. (2006) verificaram diminuição da PAS (-12±3 mmHg) e PAD (- 6±2 mmHg) por até 10 horas em mulheres hipertensas em uso de captopril pós-sessão de ER para membros superiores e inferiores. Costa e cols. (2010) também observaram hipotensão após uma sessão de ER em idosas hipertensas treinadas e não treinadas. Segundo os autores, os resultados foram mais consistente nas voluntárias não treinadas. Segundo Polito e Farinatti (2006), embora alguns estudos não apresentem diferenças significativas, estas podem estar associadas a volume, intensidade do ER, como também período de monitoração da PA. No entanto, segundo os mesmos autores é possível identificar a hipotensão pós-exercício tanto em pessoas normotensas quanto hipertensas. É importante destacar que sujeitos com maiores valores de PA apresentam maiores hipotensões pós-exercício (NEGRÃO e BARRETO, 2005).
Agora, com relação ao efeito crônico do TR, diversos estudos apresentam resultados satisfatórios no que diz respeito ao controle e à manutenção da PA. Nos estudos de revisão de Kelly (1997) e Kelly e Kelly (2000), foram encontradas reduções médias de 5 mmHg para a PAS e 4 mmHg para a PAD e 3 mmHg para a PAS e 3 mmHg para a PAD em jovens normotensos, respectivamente. Além disso, parece que sujeitos de idade avançada também se beneficiam do efeito crônico do ER. Com base nos estudos encontrados, embora escasso e controverso, o TR também pode desencadear efeito hipotensor em indivíduos idosos normotensos e esse efeito ocorre, principalmente, quando o treinamento é de baixa intensidade (QUEIROZ, KANEGUSUKU e FORJAZ, 2010). Entretanto, Terra e cols (2008) evidenciaram reduções médias de 10 mmHg (PAS), 1 mmHg (PAD) e 6 mmHg para a PA média após TR de 12 semanas em idosas hipertensas controladas. Vale destacar que pequenas reduções nos valores da PA já são suficientes para reduzir de forma marcante os riscos associados a HAS. Segundo Pescatello e cols. (2004), reduções 2mmHg na PAS e/ou PAD podem reduzir na população geral o risco de acidente encefálico em 14% e 17%, respectivamente, e o risco de DAC em 9% e 6%, respectivamente.
Além disso, apesar de ainda não serem claras as adaptações da PA em resposta ao TR, outros fatores como alterações metabólicas (melhora da sensibilidade a insulina, aumento e/ou manutenção HDL colesterol e redução e/ou manutenção do LDL colesterol), osteomusculares (redução da gordura corporal, aumento da força, massa muscular e densidade mineral óssea) e funcionais (vaso dilatação e consequentimente redução da carga vascular e melhora da capacidade de desempenhar as atividades da vida diária), fatores que contribuem para o surgimento e/ou agravo da hipertensão arterial e comorbidades associadas, são influenciados de forma positiva após um programa de TR (WALLACE 2003; POLITO e FARINATTI, 2003; UMPIERRE e STEIN, 2007; WILLIAMS e cols., 2007; BRAITH e STEWART, 2006).
Sendo assim, devido aos vários benefícios associados ao TR, pesquisas que avaliam intensidade, duração, carga, repetições, intervalo e intensidade do programa de treinamento são de grande importância para verificar qual protocolo seria o mais indicado para os sujeitos com HAS.
Referências Bibliográficas
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