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A teoria dos complexos de C. G. Jung

15/08/2012

A teoria dos complexos de C. G. Jung aplicados ao estudo da cultura

Por: Prof. Walter Boechat

Mas o que são realmente os Complexos concebidos por Jung? O autor suíço quis designar com o termo complexo afetivo um grupamento de representações mentais mantidas juntas por emoção. Os complexos se organizam a partir de experiências emocionais significativas do indivíduo. Nesse ponto de vista, o próprio ego, para Jung o centro da consciência, seria um complexo, o complexo egóico. Outros complexos na personalidade podem agir sobre o ego, interferindo no funcionamento adequado da consciência, perturbando a adaptação criativa do sujeito. Um complexo de poder, caracterizado por idéias obsessivas de domínio e uma postura onipotente, pode dominar de tal forma o complexo egóico que o indivíduo se sente identificado com esses conteúdos de poder originados de raízes inconscientes não imediatamente definidas.

A partir da descrição detalhada dos complexos afetivos Jung construiu toda uma psicodinâmica psicopatológica: neuroses dissociativas, despersonalizações e estados afetivos anormais podem ser atribuídos à influência dos complexos sobre a consciência. Os complexos são frequentemente personificados; personagens em sonhos podem ser entendidos como nossos próprios complexos personificados.  A literatura sobre os complexos afetivos tornou-se bastante ampla. Mas é preciso entender que o complexo afetivo não é necessariamente negativo. Necessitamos dos complexos. Eles fazem parte do funcionamento geral da psique, o centro da psique consciente é o complexo egóico, o trabalho sobre complexo paterno e o complexo materno constitui um dos aspectos mais fundamentais do trabalho de análise junguiana. Um dos aspectos mais fascinantes desse funcionamento necessário dos complexos é na criatividade. O homem criativo necessita ter um contato constante com seus complexos, fonte de criação, gradiente necessário de energia para que o processo criativo tome lugar. Na criatividade os complexos roubam do complexo egóico sua tirania sobre a consciência, que buscando a falsa unidade, leva o indivíduo a pagar o alto preço da unilateralidade. Os complexos conferem à consciência uma perspectiva policêntrica, que leva o indivíduo a ver diversas saídas possíveis para determinada questão. A psicanalista Joyce McDougall chamou de normopatia, a patologia da normalidade, a consciência excessivamente normal, adaptada, dissociada dos complexos criativos. (Jung chamaria o normopata de um indivíduo identificado com sua persona, à máscara da adaptação social).

O que determina a patologia ou a criatividade do complexo é seu grau de autonomia. Quanto mais autônomo e dissociado da consciência mais destrutivo o complexo, podemos levar mesmo a estados psicóticos, quando o ego desaparece e a consciência é invadida pelos complexos autônomos personificados como espíritos malignos, vozes ou visões. Ao contrário o complexo interagindo dialeticamente com o ego, leva à criação inspirada, quando o fluxo adaptativo cotidiano do processo consciente é interrompido pela criação de uma idéia nova, uma criação literária, artística ou científica.

Recentemente o conceito de complexo afetivo teve um desenvolvimento significativo ao ser aplicado aos estudos dos grupos sociais e das culturas. Criou-se para isso o conceito de complexo cultural, largamente usado atualmente pelos junguianos. A construção desse conceito levou certo tempo. Inicialmente, Joseph Henderson procurou definir o que seria inconsciente cultural, o inconsciente de toda uma cultura ou nação, com suas representações, símbolos e valores coletivos. Os analistas junguianos Thomas Singer e Samuel Kimbles, partindo desse conceito e da idéia de Jung de complexo afetivo, procuraram definir o que seria o complexo cultural, os complexos afetivos de toda uma cultura que emergiriam a partir de experiências históricas significativas desses povos ou culturas.

Frequentemente o complexo cultural emerge de um trauma histórico de certo povo. Procurei pesquisar um importante complexo cultural brasileiro o que defini como racismo cordial, o racismo do homem cordial (Sérgio Buarque de Holanda). Esse complexo cultural está presente no inconsciente cultural brasileiro a partir da experiência traumática de quase três séculos de escravidão. Nosso povo ainda não elaborou suficientemente esse trauma. Assim como os traumas infantis são de difícil elaboração pelo indivíduo, os traumas culturais permanecem no inconsciente cultural, gerando importantes complexos culturais.

Caros leitores, o Instituto Junguiano do Rio de Janeiro está promovendo a palestra da Prof.ª Jennifer Leigh Seling, da Pacifica Graduate Institute, Califórnia.

A conferência, a se realizar dia 20 de agosto no auditório do Campus Candelária da UGF é uma aplicação da teoria dos complexos psicológicos de C. G. Jung aos estudos sociais e políticos.




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